Publicado em 1 de abril de 2012 por Victoria Almeida
PROJETO SERTÃO VIVO REALIZA A 7ª JORNADA DE ARTES NA ROÇA
Nós, da Comunidade do Sítio Aroeiras, no município de Orós / CE, vivemos os dias 22 a 25 de março em clima de arte e festa, durante a realização da 7ª Jornada de Artes na Roça.
Desta vez, mesmo tendo optado por uma maneira mais interna, visando envolver o máximo as pessoas da comunidade, estiveram presentes mais de 70 pessoas das localidades vizinhas, além daquelas pessoas que participaram e nos apoiaram, enviando mensagens, compartilhando apoios em alimentos, dinheiro e dando suporte em Fortaleza.
Foram mais de oito modalidades de atividades artísticas em torno do tema-lema:
“Na horta e na comida, sertão vivo com mais vida!”.
No primeiro dia, 22 de março, em clima de lua nova, antes da 07h00min da manhã, um grupo de meninos e meninas de Guassussê, trazido por Pedro, nosso garoto mascote e, algumas mulheres dos Sítios – Sobrado e S. Romão, chegam querendo participar das oficinas de desenhos e pinturas e da criação de hortas.
Enquanto esperam que tomemos o café, assistem o DVD de Jornadas passadas. Alguns trazem um pouco de arroz, macarrão, leite… E dizem que desejam permanecer o dia todo.
No terreiro dos ancestrais, numa roda de ciranda, brincamos e dançamos, repetindo o lema: “na horta e na comida, sertão vivo com mais vida!”.
Em seguida, os grupos acompanharam seus monitores – para a horta, com Ciçô Inventor, vindo da cidade de Altaneira, no Cariri Cearense, um apaixonado pelas pequenas invenções que fazem diferença nos rumos da produção orgânica de alimento.
Para desenhos e pinturas, precisamos dividir em dois grupos. O maior de meninos e meninas segue o artista plástico e vídeo-educador, nosso velho parceiro, Ivo Sousa, que vai espalhando, com sua turma, pelo chão e paredes, desenhos inspirados nos encantos de cada participante. O outro grupo, formado por algumas mulheres, acompanha Fabiana, a jovem monitora da comunidade local, que passam com segurança e ousadia, seus conhecimentos na pintura em tecido.
E na cozinha, Dos Anjos, Nena, Idacir e Denir, nossas artistas da culinária sertaneja, conversam animadas, criam, definem tarefas para Ézio, Moisés, Júnior e outros homens que ousamos chegar por perto.
À tarde, chega o arte-educador Gilson Lucena, articulador da RECID (Rede de Educação Cidadã), na região, trazendo o apoio da entidade para nossa Jornada. Naquele primeiro dia, tratamos de sonhos e sementes que geram vida.
No dia 23, sexta feira, trouxemos as memórias que temperam a vida. Para o almoço, chega mais um grupo de artistas – Márcia Carneiro, terapeuta e focalizadora de Danças Circulares, com sua mãe, Niva, vindas de Curitiba, Paraná; Paulo Nogueira, de Fortaleza, arte-educador, para acompanhar a Oficina de Teatro e Pedro, nosso amigo motorista, que também participa das atividades da Jornada.
A partir das duas da tarde, após um bom relaxamento, orientado por Nena, nossa cuidadora, até a noitinha, crianças, jovens e adultos, ocupam os espaços dos terreiros, nas sombras das Tamarineiras e Cajaraneiras, um tipo de imbu-cajá, cujos frutos maduros, vão caindo pelo chão, numa bela e saborosa percussão.
O sábado foi o dia das boas surpresas que alimentam a vida. A mais expressiva delas, veio da cidade de Cariús, com o grupo de três mulheres e um homem. Uma delas, dona Francisca, 72 anos, louceira e artesã, com suas criações – panelas, pratos, jarros de barro, bonecas, toalhas, tudo saído de suas mãos, para admiração e uso de todos e todas, em plena sintonia com nosso tema.
Na parte da tarde o terreiro e os corações de todos vão se enchendo de artes – exposição de canteiros ecológicos feitos com garrafas pet, pelo grupo com o Ciçô; saudação pela Capoeira,coordenada pelo nosso parceiro Francisco “Machado de Prata”; apresentação do grupo de bonecos, monitorado por Mônica, da comunidade, com o tema “A cozinha da vovó”.
A expressiva e interativa performance da oficina de Teatro, com jovens de Guassussê, já bem familiarizados com as ações do Projeto, monitorados por Paulo Nogueira, foi mesmo uma verdadeira mostra de potencialidade e possibilidade artística. O encerramento da mostra foi com a oficina de Danças Circulares, facilitada por Márcia Carneiro, que foi se abrindo numa grande ciranda onde todos e todas, até os nossos três cachorrinhos entraram felizes da vida!
Nas noites, o ritual de sempre, a celebração da tradicional novena a S. José, iniciada em março de 1952, pelo casal mãe Suzana e pai Zezinho Paraibano e que neste 2012, completa 60 anos,sem interrupção. O momento da novena é também uma forte vivencia de arte, com animadores e tocadores, compartilhando benditos, depoimentos e apreciações das realizações dos dias, orações tradicionais e bênçãos, numa verdadeira sintonia da espiritualidade popular tradicional com as vivências históricas da comunidade atual. Antes de dormir, aquele chá de capim santo, adoçado com um papo descontraído.
A 7ª Jornada de Artes na Roça encerrou-se no domingo, dia 25 de março, com o café da manhã, feito pelos homens presentes – cuscuz de milho, moído na hora, cozido na vasilha de barro, frutas, leite mugido, suco verde, a Caminhada Ecológica, pelo velho riacho do Saco da Onça, um afluente do Rio Salgado, saindo pelas 06h30min, quando contemplamos as velhas e sagradas Oiticicas, Inharés, Sabiás, Veludos e as belas Avencas e Jericós. Da caminhada trouxemos os maxixes para o almoço e um ramo de flores de Mufumbo, para o altar de S. José, em nome dos amados e amadas, que tantas vezes fizeram este gesto nos tempos passados.
A festa final, em torno da mesa, debaixo das árvores, com o brinde de caipirinha, sucos naturais e vinho, numa bela roda da família de sangue, arte e mística. Ali todos nós compartilhamos nossas primeiras sensações do que vivemos – “fortalecimentos das amizades, beleza da partilha, o encanto da mãe natureza, boas surpresas de adolescentes e jovens que já mostram seus talentos e capacidade de militância artística”.
Em todos(as), a certeza de que esta Jornada foi distinta, porque envolveu mais a comunidade local com a turma que veio de longe e um inquieto desafio, sobre em que precisamos inovar e avançar, para um novo ciclo, após o simbólico sétimo ano de Jornadas de Artes na Roça.
Após o almoço, os abraços emocionados e agradecidos e a partida dos grupos que seguiram para Fortaleza e Iguatu.
A noite veio a tão esperada chuva, com relâmpagos e trovões, sobre nossa horta e nossa semeadura de sonhos e talentos no velho e encantador sertão vivo.
Zé Vicente – poeta cantor
Contato: zvi@uol.com.br
*Renasci em Orós! Cidade onde levei minha primeira (e espero que única!) mordida de Pirambeba (uma espécie de piranha).
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