Companhia paga para público assistir peça de teatro
27 de fevereiro de 2012 • 11h37
Público recebe entre R$ 2 e R$ 4 para assistir peça de teatro
Roger Pereira
Direto de Curitiba
A Marcos Damaceno Companhia de Teatro está pagando R$ 4 (R$ 2 para estudante) para cada pessoa que for assistir ao espetáculo Para o Vampiro - Variações nº 1, em cartaz no teatro Novelas Curitibanas, na capital paranaense. O pagamento para o público assistir à peça já faz parte do contexto na história apresentada pelo texto, pontuado por questionamentos sobre o mercado teatral e o pagamento da obra artística.
Roger Pereira
Direto de Curitiba
A Marcos Damaceno Companhia de Teatro está pagando R$ 4 (R$ 2 para estudante) para cada pessoa que for assistir ao espetáculo Para o Vampiro - Variações nº 1, em cartaz no teatro Novelas Curitibanas, na capital paranaense. O pagamento para o público assistir à peça já faz parte do contexto na história apresentada pelo texto, pontuado por questionamentos sobre o mercado teatral e o pagamento da obra artística.
"Estamos questionando a relação entre produto artístico e consumidores de teatro. Teve uma discussão recente e até saiu na imprensa matérias sobre 'a falência do teatro curitibano', mas era com uma abordagem sobre um tipo de teatro, o teatro mercadológico, que se pauta por bilheteria. Aqui estamos mostrando que não precisamos de bilheteria, e até pagamos para as pessoas assistirem. É um teatro que não se pauta por questões financeiras, é uma área de conhecimento, não apenas entretenimento", argumenta o diretor Marcos Damaceno.
A peça abre a temporada 2012 do Teatro Novelas Curitibanas, da Fundação Cultural de Curitiba e conta a situação real da companhia que, selecionada pela diretora de incentivo à Cultura da Prefeitura Municipal de Curitiba em dezembro do ano passado, teve apenas sete semanas para escrever, produzir, ensaiar e estrear o espetáculo. "A ideia de pagar para o público partiu um pouco da peça, está até no texto, é o que está acontecendo com a gente, com a companhia. Nas contestações do personagem ele chega a dizer: 'não preciso de dinheiro, preciso de tempo. O dinheiro, use para o marketing, use para atrair público, pague para o público vir para a peça, se quiser'", disse o diretor.
O protagonista, um escritor recluso e famoso na cidade de Curitiba, tem dificuldade em desenvolver uma obra para ser ensaiada em sete semanas. Ele considera pouco tempo, mas se vê obrigado a aceitar por questões financeiras. A concessão ao seu método de trabalho prejudica o processo, história semelhante com a vivida pelo dramaturgo. "Teve essa seleção pública para a ocupação do teatro e quem cai por primeiro acaba ficando com esse pepino de desenvolver tudo em poquíssimo tempo. Ainda mais nós, que não tínhamos a peça pronta. Minha proposta era de desenvolver pesquisa, ficar uns seis meses desenvolvendo esse trabalho. Por isso, cogitamos até não fazer".
Apesar de fazer uma crítica direta ao sistema em que está inserido e que praticamente financia a existência da companhia, o dramaturgo não ver risco em retaliações por questionar o funcionamento da produção teatral via leis de incentivo, com prazos e exigências. "Não dá para ficar se pautando nisso. É uma grande brincadeira, uma provocação. Estamos lançando interrogações. Foi conversado com a Fundação Cultural. Não dá para ter medo. Somos nós os artistas que temos que fazer essa provocação. Por isso o texto que fala dessa tentativa de conciliar o que o dramaturgo quer, acredita com o que ele tem que fazer pelo dinheiro que recebeu e no prazo que a ele estipularam. Não podemos nos prostituir e aceitar regras do patrocinador".
A Companhia de Damaceno vive, basicamente de verbas públicas. "E acho que tem que ser assim mesmo. Quem não faz teatro de entretenimento, para viver de bilheteria, só pode funcionar assim. Acho que o governo tem que financiar arte como financia a ciência. Um pesquisador fica anos enfurnado em um laboratório tentando descobrir como entender melhor o ser humano, é isso que a gente faz aqui, enfurnado num teatro, numa sala de ensaio", disse. "Foi assim que a rainha Elizabeth, que financiou dezenas de dramaturgos na Inglaterra, e foi assim que apareceu um tal de Shakespeare", comparou. Para ele, "é a ciência e a arte que podem subverter, quebrar modelos prontos, a ordem estabelecida, e apresentar novidades e novos rumos, o que gera o progresso. Não é a ordem que gera o progresso".
A peça fica em cartaz no Teatro Novelas Curitibanas (Rua Carlos Cavalcanti 1222 - São Francisco) até o dia 18 de março, com apresentação de quinta a domingo, às 20h.
Especial para Terra
*Adorei!!!