Histórias Bem Contadas - SP - Brasil

Histórias Bem Contadas - SP - Brasil

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

O Brincar Infantil e o Seu Reflexo na Vida Adulta.

Este texto, de caráter acadêmico, tem por objetivo descrever aula ministrada por Eliana Rosa de Sousa e Lusia da Conceição dos Santos, alunas do Segundo Módulo do curso de Arterapia e Psicopedagogia, na disciplina Didática do Ensino Superior, da Faculdade Paulista de Artes, sob a orientação do professor Péricles Martins. 

O fio condutor dos nossos trabalhos são, principalmente, os estudos de Lev Semenovitch Vygotsky. 

Muitos teóricos (psicólogos, filósofos, historiadores e antropólogos) se debruçaram, e ainda se debruçam, na busca da compreensão científica do como se dá o desenvolvimento infantil. Esses teóricos consagram a brincadeira como atividade essencial. 

Segundo estudiosos, o Ser Humano brinca desde que nasce, sem objetivos específicos, para sua recreação. 

A infância, na cultura brasileira, é marcada pelo ato de “brincar”. Diz-se da brincadeira um DIREITO da criança. 

Até algum tempo a Ciência precisou dissecar fisicamente o Homem, para melhor estudá-lo e compreendê-lo. Hoje, porém, a Holística reconstrói este Homem, deixando muito claro que o Ser Humano passa por fases que não estão isoladas em si mesmas. Que, comportamental ou não, o que o constitui é fruto de experiências vividas desde a vida intra-uterina. 

Na Idade Média (476-1453) as crianças eram vistas como “miniadultos” participavam das mesmas festas e brincadeiras de toda comunidade, com o intuito de estreitamento dos laços afetivos. Os jogos, atividades de recreação e relaxamento 

Segundo o historiador francês, Philippe Áries (1973), a idéia de infância simplesmente não existia, as crianças eram adultos à espera de adquirir a estatura “normal”. O brincar dirigia-se tanto para o adulto quanto para as crianças, sendo considerado como necessário à vida humana (Lauad, 2002). O homem precisava de repouso para o corpo e para a alma, o que era proporcionado pela brincadeira. 

A partir do Renascimento, já na idade Moderna a infância começou a ser valorizada. Rousseau e Pestalozzi contribuíram para tal valorização. Segundo eles, a criança deve ser protegida e educada com métodos próprios da educação infantil, propuseram assim uma educação dos sentidos, utilizando-se de brinquedos e centrada na recreação. 

Friedrich Frobel, Montessori e, principalmente, Piaget e Vygotsky, a importância do brincar tornava-se cada vez mais valorizada, foram teóricos fundamentais que contribuíram para tal valorização. Apresentaram propostas científicas que enfatizavam a participação ativa do sujeito na aprendizagem. 

O brincar permite o desenvolvimento global; a exploração do meio ambiente; incentiva a interação entre pares e permite a resolução construtiva de conflitos. 

Vygotsky, um dos mais importantes contribuintes, da Psicologia histórico-cultural, propõe a formação de um cidadão crítico e reflexivo por meio das atividades lúdicas, sendo estas uma das formas de descobrir-se a si mesmo, de “aprender” e “apreender” a realidade, tornando-nos capazes de desenvolvermos um potencial criativo necessário na interação do Homem com o mundo que o cerca. 

A brincadeira, no seu olhar, assume uma posição privilegiada na análise do processo de constituição do sujeito, rompendo com a visão de que se trata de uma atividade natural, fruto da satisfação do instinto infantil. Segundo ele, o brincar é construído. 

Ele parte do principio de que o sujeito se constitui nas relações com os outros, por meio de atividades caracteristicamente humanas. 

O “faz-de-conta” promove a representação e a metarepresentação no desenvolvimento da pessoa. A criança, ao brincar faz construções sofisticadas da realidade e a brincadeira vai se estruturando de acordo com que aumenta o grau de maturidade do indivíduo. Daí, ele vai adquirindo novas e diferentes competências no contexto das práticas sociais, e passa a, cada vez mais, compreender e atuar de forma mais ampla no mundo. 

Quando uma criança opta por brincar ou não, ela permite-se o desenvolvimento da autonomia. 

O brinquedo, a brincadeira e o jogo na nossa cultura são formas de mediação, que integra o sistema psicológico individual e o universo social onde se está inserido. 

Neste contexto é que se dá a construção social, com base nas tradições (idéias e valores de um grupo cultural) que cria e recria padrões de participação, categorias de pensamento e recursos de expressão. 

A criação de situações imaginárias de brincadeira surge da tensão entre o individuo e a sociedade. A brincadeira liberta a criança das amarras da realidade imediata. 

O objeto dita à criança, de certa forma, como ela deve agir. A relação com objeto vai se alterando até que perde a força determinadora na brincadeira. Ela age independente daquilo que vê. 

A distância entre o nível de desenvolvimento real (solução independente de problemas) e nível de desenvolvimento potencial (a solução de problemas - sob a orientação de adulto ou companheiros mais capazes), Vygotsky nomeia de Zona de Desenvolvimento Proximal - ZDP. 

A brincadeira é, assim, a realização das tendências que não podem ser imediatamente satisfeitas. Esses elementos da situação imaginária constituirão parte da atmosfera emocional do próprio brinquedo. Nesse sentido a brincadeira representa o funcionamento da criança na ZDP e, portanto promove o desenvolvimento. 

Daí, o autor afirma que o prazer não pode ser visto como uma característica definidora da brincadeira. Existem outros prazeres mais intensos do que o brincar. Mas, não se deve ignorá-lo, pois preenche as necessidades da criança e cria incentivos, que é de fundamental importância, contribui para mudanças nos níveis de desenvolvimento humano. Todo avanço se relaciona às motivações, tendências e incentivos. “Os brinquedos parecem ser inventados justamente quando as crianças começam a experimentar tendências irrealizáveis. Envolvendo-se num mundo imaginário, onde os não realizáveis podem ser concretizados.” Este é o mundo que se chama brincadeira: aprender a perder, experimentar o agradável e o desagradável 

A imaginação, sim, é característica definidora da brincadeira. Imaginação é o brinquedo sem ação. É aí que se dá toda a organização estrutural de normas sociais, valores, regras de conduta e sistemas de significados pessoais e compartilhados pelas suas relações. 

Quando a criança deixa de sê-la, na nossa cultura, há uma ruptura é muito brusca. Contrariando o lúdico, é-lhe imposta uma grande quantidade de responsabilidade e cobranças e a fase o brincar é interrompida. No adolescer, o Ser Humano precisa de tantos “cuidados” quanto. 

Até mesmo os animais, brincam! 

Segundo Winnicott (1975), o brincar facilita o crescimento e, em conseqüência, promove a saúde. O não brincar em uma criança pode significar que ela esteja com algum problema, o que pode prejudicar seu desenvolvimento. 

O mesmo pode-se dizer de adultos quando não brincam ou quando proíbem ou inibem a brincadeira nas crianças, privando-as de momentos que são importantes em suas vidas, e nas dos adultos também. 

Winnicott nos remete a esta questão em seu livro “O Brincar e a Realidade”, onde cita que a criança só se exprime criativamente quando brinca, e para que isto ocorra na presença do adulto, é preciso que sinta a disponibilidade do mesmo. 

As pessoas, por motivos diversos, seja pelo desenvolvimento, pela busca de informações ou por estimulação cerebral, brincam. E em todas estas situações, está presente a diversão, o prazer e o humor. 

O brincar do adulto é uma resposta a uma demanda interna de ocupar-se mentalmente e fisicamente (Moyles, 2002, p. 20). O brincar cria uma atitude alegre em relação à vida (e à aprendizagem), podendo ser fonte de descanso e satisfação em qualquer idade, uma forma de descarregar as tensões e preocupações para os adultos e até uma medida saudável e preventiva enquanto estratégia contra o estresse, a ansiedade e a depressão. Segundo Piers e Landau (apud Moyles, 2002) “o brincar desenvolve a criatividade, a competência intelectual, a força e a estabilidade emocionais. 

Por meio do brincar infantil, a criança cresce, tem estimulados os sentidos, aprendem a usar os músculos, coordenam o que vêem com o que fazem, e adquirem domínios sobre seus corpos. Exploram o mundo e a si mesmas, adquirindo novas habilidades. Experimentam diferentes papéis e ao reencenarem situações da vida real ao manejar emoções complexas. 

Possibilita o desenvolvimento da confiança em si mesma e em suas capacidades e, em situações sociais, ajuda-os a julgar as muitas variáveis presentes nas interações sociais e a ser empático com os outros. A criança é capaz de elaborar hipóteses para solução de seus problemas, trabalha com imaginários, desenvolve a linguagem, narrativa e a criatividade. Wajskop (1999) afirma que "do ponto de vista do desenvolvimento da criança, a brincadeira traz vantagens sociais, cognitivas e afetivas”. 

No dinamismo da vida, o brincar inconsciente da infância é um exercitar, criar e recriar ritos, inclusive projetando o que pode vir a ser vida adulta. 

Referências: 

Revista Vida Simples nº82, 01/08/2009: www.revistavidasimples.com.br, acesso em 28 de setembro, 22h40. 

Castro, S.A.B. (2005). O resgate da ludicidade das brincadeiras, do brinquedo e do jogo no desenvolvimento biopsicossocial das crianças. Monografia de conclusão de licenciatura em pedagogia, Universidade Estadual de Campinas [on-line]. http://libdigi.unicamp.br/document/?view=18162

Longuini, J. R. L. M. Por que brincar? Portal: Kidsmart. [on-line] http://www.ibmcomunidade.com.br/KIDSMART/detLeitura.asp?codigo_leitura=97&codigo_idioma=3 
Mastroianni, E. C. Q., Bofi, T. C., Saita, L. S. & Cruz, M. L. S. (2004). ABCD no LAR – aprender, brincar, crescer e desenvolver no laboratório de atividades lúdico-recreativas. Universidade do Estado de São Paulo [on-line], 10, 557-567. http://www.unesp.br/prograd/PDFNE2004/artigos/eixo10/abcd.pdf

Moyles, J. R. (2002). Só brincar? O papel do brincar da educação infantil. Porto Alegre: Artmed. 

Vygotsky, L. S (1997). Obras escogidas, V- fundamentos de defectología (Blank, J. G. Trad). Madri: Editora Visor. 

Vygotsky, L.S. (1996) A formação social da mente. O desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. São Paulo: Martins Fontes 

Winnicott, D.W. (1975). O brincar & a Realidade. Rio de Janeiro: Imago Editora. 

Winnicott, D.W. (1971). A criança e o seu mundo. Rio de Janeiro: Zahar Editores.

*Agradecimentos mais que especiais ao músico André Christovan, que contribuiu com uma história linda!

...

Mais um aprendizado! 
Um bom trabalho realizado por mim e pela minha mais nova amiga de infância Lusia, na Faculdade Paulista de Artes, no curso de Psicopedagogia e Arteterapia. 
Até outubro do ano que vem estaremos "ralando" pra caramba, correndo atrás dos nossos sonhos, desejos e missões. 
Agora chegam os dias de Sol, e nós, aos sábados, naquele prédio frio, clamando pelos 15 minutos (que se tornam 20!). 
Religiosamente: Berinjela à Parmigiana e panqueca de forma; pacotes e pacotes de balas, marshmellow... Muitas resenhas, artigos, resumos, lápis de cor, dinâmicas que fazem chorar e, finalmente, a MONOGRAFIA!
Que até outubro do ano que vem, o Universo nos seja generoso!

Lusia e seu "Eu, Artistico"


Eu, em trabalho - "Eu, Artístico"